Encontrar modelos inovadores, que ofereçam novas perspectivas e arranjos que contribuam para o surgimento de novos modelos de desenvolvimento para a região amazônica, é também um desafio grande nesse contexto.
Organizações da sociedade civil vêm trilhando caminhos ousados para driblar esse dilema, trabalhando no ecossistema de negócios de impacto com diferentes abordagens. Isso não quer dizer abrir mão do capital filantrópico, mas abrir frentes complementares para maximizar o impacto positivo.
É o caso do IDESAM, por exemplo, que criou há cerca de quatro anos uma empresa: “Trabalhamos com cadeias produtivas há bastante tempo, e sempre trabalhamos para que essas cadeias se sustentassem sozinhas. Criamos até uma empresa, a Companhia Amazonense de Florestas (Ciaflor) para trabalhar com manejo em apoio a comunidades florestais. Fizemos isso por dois anos, mas não conseguimos dar viabilidade financeira ao negócio, por razões conhecidas no setor florestal, como dificuldade de concorrer com o mercado de madeira ilegal, alta custo de logística e burocracia no licenciamento. Mas essa experiência gerou grandes aprendizados. O que nos levando a criar uma outra empresa, para expandir as operações do Café Agroflorestal Apuí. Estamos seguros que é fundamental ter mais empreendedores nesse meio, trabalhando junto com as ONGs.
Às vezes o grupo com o qual se trabalha não está disposto a fazer a gestão comercial da cadeia e isso dificulta a busca por investidores, ao fim as ONGs acabam tendo que fazer isso, mas com extrema dificuldade por terem limitações legais. Então uma das saídas que encontramos foi criar empresas”, diz Mariano Cenamo, co-fundador do IDESAM e coordenador executivo da PPA.
Caminho semelhante trilhou o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). Cláudio Pádua rememora um caso em que um potencial cliente solicitou orçamento e achou o serviço caro, dizendo que uma ONG não poderia cobrar isso, porque não era uma empresa. E então o IPE criou uma empresa em 2007, que teve que ser desativada alguns anos depois.
Claudio criou outra empresa, a Biofílica, especializada em criar reservas florestais e gerar créditos de carbono. Os projetos são desenvolvidos com comunidades ou proprietários de áreas na Amazônia. O foco é gestão e conservação de florestas a partir da comercialização de serviços ambientais, investimento em pesquisa, desenvolvimento socioeconômico de pessoas e comunidades e intermediação de negócios entre produtores e proprietários de matas nativas.
A Pecsa, empresa de gestão e parceria agropecuária fundada em 2015 em Alta Floresta, no Mato Grosso, busca transformar a pecuária na Amazônia em um negócio sustentável. Apresentada como um case de sucesso durante o FIINSA, surgiu dentro de uma organização da sociedade civil, o Instituto Centro de Vida (ICV).
O Instituto Peabiru trilhou caminho semelhante e criou a empresa Peabiru Produtos da Floresta. Trabalhando com a cadeia produtiva de mel de abelhas sem ferrão, a dificuldade maior se mostrou na logística, com a produção em diversas comunidades isoladas. Criou-se então a empresa Peabiru Produtos da Floresta, buscando apoiar os gargalos dessa cadeia de valor.
“Acho que criar empresas com ONGs e para ONGs é um caminho. É obrigação das ONGs trabalhar essas cadeias, produtos locais, que têm identidade. Podemos ajudar a intervir nesses mercados e mostrar caminhos. É preciso ter capacidade, nas organizações locais para conduzir esses processos”, diz João Meirelles, do Instituto Peabiru.
A Imaflora seguiu o caminho oposto. Nasceu prestando serviços, em especial demandas por certificação. Tinha 80% de seu recurso proveniente disso. A organização começou a investir também em projetos, e hoje tem 50% em parcerias e doações e 50% em serviços.
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